Meu amigo e colega de juventude, o montenegrino Ernesto Arno Lauer, teceu este precioso texto sobre sobre comportamentos nos anos 1950 em Montenegro. Vale para cidades pequenas e médias do interior.
“O pessoal que trabalhava no Frigorífico Renner, manhã cedo, descia a Ramiro, caminhando e batendo os tamancos com força no passeio público. Naquele tempo, usava-se muito tamanco. E os funcionários da fábrica do Renner usavam tais calçados quase à unanimidade.
Como não havia bota de borracha, o tamanco era o melhor calçado para enfrentar o piso úmido. O barulho que faziam batendo os tamancos era grande e acordava o pessoal do centro.
Normalmente, os quartos de casal eram contíguos à calçada. O pessoal se reuniu e foi falar com o seu Gaspar. Revestiram as cepas com solado de pneu e o barulho acabou.
No passeio público, havia solução de continuidade, restando um chão batido muito regular e liso. Nestes espaços os guris jogavam bolinha, principalmente triângulo e boco.
Nas calçadas, o jogo de bola corria frouxo, de preferência golo-a-golo e cabeça. As meninas jogavam sapata, faziam roda e passavam anel. A presença da juventude acontecia mais para o fim da tarde.

Praticamente todos estudavam no São João ou no Colégio das Freiras e as aulas aconteciam em dois períodos. O da tarde acabava às 3h30min e, depois do café, tinha que se fazer os temas para casa.
Depois das 18 horas, a rua ficava florida de crianças e adolescentes, especialmente no tempo quente. Era chegado o horário de brincar de esconder. Uns 10 ou mais guris espalhavam-se pela rua, subindo em árvores (havia muitos cinamomos nas áreas frontais das casas), escondendo-se atrás dos muros e muitos atravessando atalhos e saindo nas outras ruas”.
Preciosas lembranças. Chamo a atenção para a parte em que os quartos de casal ficavam contíguos às calçadas. Hoje, quanto mais fundo melhor.