O prefeito levantou da cadeira, espreguiçou-se e deu uma geral na sala. Ao fundo, estava emoldurado um chapéu de palhaço usado por um antepassado. Pela ampla janela, vislumbrava, entre os altos prédios, uma nesga do Arroio Guaíba. Ligou para a secretária e mandou o vice-prefeito entrar.
– Bom dia chefe. Na buena?
– Oh yes. Me dá um resumo do CPS.
Significava a sigla de Conjunto dos Pepinos Semanais. Então, o vice abriu uma holografia.
– Prefeito, vou começar com uma boa notícia. Finalmente, o Trensurb informou que vai reabrir a Estação Mercado em menos de dois anos. A má é que atingimos a marca de 90% de funcionários públicos.
Rugas de preocupação formam-se na testa do alcaide.
– E os 10% restantes?
– São pensionistas.
O vice apontou para a holografia.
– No Centro Histórico, o problema de sempre. A Federação dos Camelôs e Ambulantes Que Não Ambulam quer aumento de 100% na mesada. Dizem que os fregueses não conseguem mais acessar o centro. Além do mais, a ponte levadiça enguiçou.
– Azar o deles. E como está nossa agenda com a Câmara de Vereadores?
O prefeito usava esse termo antigo usado por um colunista de 100 anos atrás. Gostava de dizer para todos que fora eleito com uma coligação de 132 partidos.
A oposição ainda era forte, somava 84 partidos. Entre eles, o PCdoB do B do B do B e uma dissidência, o PLua. Bem, por enquanto tudo sob controle, mas não era fácil conversar com os 408 vereadores da Casa.
O maior partido brasileiro era o Partido dos Analfabetos Funcionais, o PAF, que não sabia escrever discursos acima de três frases. E se orgulhava disso.
– Então tá. Vamos almoçar? Mas não quero comer barbecue with potato salad. Prefiro uma comida bem simples. Escolhe entre pasta and sausage ou carter with scramble beans.
– Pra mim tá bom. O meu avô ainda fala massa com linguiça e carreteiro e feijão mexido. Mas os garçons dos restaurantes não sabem o que é.
Desceram para o térreo, onde montaram os patinetes elétricos oficiais e se mandaram para pegar um rango, como se falava em tempos primordiais.