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Os possantes dos anos 1960

Nos anos 1960, a indústria automobilística nacional recém engatinhava, produzindo carros já fabricados no exterior. Para baratear, o acabamento deixava a desejar, e os motores eram fracos.

Mesmo itens de segurança nas versões dos países de origem vinham esgualepados, como diria Olívio Dutra. A marca que se destacou foi a VW com seu fusca (aqui era fuca) e a Kombi. Foi sonho de consumo ter um. No início dos anos 1970, Porto Alegre só tinha 40 mil automóveis. Começando por baixo.

A Renault do Brasil lançou o Dauphine de três marchas e 32 hp, motor muy flaquito. Dava a impressão de se desmanchar. Era mais apertado que rato em guampa.

Depois veio o Gordini, mais potente, na faixa do fusca. E havia as versões populares, mais peladas que dançarina de cabaré.

O fusca foi chamado de Pé de Boi. Já o Gordini era conhecido como carro de professoras. Havia até um plano especial de financiamento para elas chamado de Plano B.

O Karmann Ghia era carro esporte, objeto de desejo pelo belo design. Subindo de preço havia o DKW Vemag, que, na Alemanha, deu origem aos Audi – com as argolas na frente do radiador. Motor de 50 cavalos, três cilindros em dois tempos, em vez dos quatro comuns.

Todos tinham variantes, como o Fissore da DKW, um belo carro que ganhou prêmios no exterior pelo design. Um degrau acima veio o Aero Willys, um obeso de 90 cavalos. Como era o mesmo do Jeep, foi apelidado de “jipe de fatiota”.

O modelo de ponta, o Itamaraty, era luxuoso, carro de autoridade. Nessa faixa surgiu o Simca Chambord V8. Seu apelido era “Belo Antônio”, alusão a um filme italiano cujo personagem era impotente. Anteriormente fabricado pela Ford francesa, era outro que parecia tambor, bate faz um barulhão, fura não tem nada por dentro.

Adiante é outra história. O FNM Alfa Romeo tinha sido premiado no Salão de Turim, belo carro e motor de 2,150 cilindradas, porém pesadão.

Na cobertura do prédio o campeão, o Ford Landau, motor do Mustang americano de 200 cavalinhos. Era carro de tio, mas era de pura inveja. Resistente, ainda tem muitos rodando.

A loucura foram as gambiarras. A fabricante de carrocerias Brasinca lançou um carro esporte de dois lugares usando o motor do utilitário da Chevrolet. Patinava até em terceira marcha. Para caber a caixa de direção, tiveram que “entortar” o volante.

Outra loucura foi botar o motor do Porsche no Karmann Ghia. Mas esse só riquinho da pauliceia desvairada podia bancar. Com poucas estradas asfaltadas, a maioria deles entre aspas se desmanchava.

Mas essa já é outra história, que continua até hoje.

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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