“… para tentar pegar uma nesga das pernas das garotas…”
Nos meus tempos adolescentes em Montenegro, quando tudo era mais simples e o mundo parecia calmo, os domingos de manhã serviam para uma série de eventos. Tinha a missa (ou o culto) de domingo de manhã e depois desse sagrado dever compulsório o footing na Praça Rui Barbosa. Os mais velhos iam para o Clube Riograndense beber cerveja ou aperitivos servidos pelo seu galego e a Dona Moça – dona Mocie, como falávamos no dialeto alemão. Nós sentávamos nos bancos da praça para tentar pegar uma nesga das pernas das garotas.
Vez por outra acontecia uma corrida de bicicleta ao redor da praça. Na reta oposta ficava o que sobrou do Clube Chimarrão em um largo terreno. O cara mais alto e teoricamente o que tinha mais força nas pernas era o Cláudio. Por um motivo que não lembro, o Cláudio perdia sempre para o azar. Teve uma que largou disparado na frente, mas ele era tiro curto e logo depois da primeira esquina perdia força nas pernas.
Quando o grupo de garotos pedalando as Monark apontava na ruazinha onde ficava a casa dos Isse, não se via o Cláudio. Quando o grupo já estava bem adiante do Riograndense vinha o Cláudio empurrando sua bicicleta, apontando alternadamente para o pneu furado e para as gurias sentadas na praça, como a explicar o motivo de estar na rabeira. Isso foi até que alguém descobriu que não tinha nada de furo, a explicação era outra.
Sentindo que faria fiasco apesar de todo seu tamanho, o Cláudio aproveitava a reta oposta, onde não tinha testemunhas, e esvaziava o pneu. Na frente do público fazia aquela encenação.
Igual ao que o governo faz hoje com a crise internacional. Não é pneu furado, não mais. O pneu é esvaziado.