Certa noite, apareceu na redação o falecido e querido jornalista Adão Oliveira, que fazia a coluna Conexão Brasília, do Jornal do Comércio. Morava em Brasília e, de vez em quando, pousava na planície para recarregar baterias.

Uma tarde em que ele estava por estas bandas, perguntou onde se comia um pastel especial de primeira, No Box 21, respondi, no Hortomercado da Quintino (Bocaiúva, a rua, quase esquina com a Cristóvão Colombo). Então vamos lá, ele falou.
Em lá chegando, fomos direto falar com o Bentinho, um dos sócios da casa, que tinha ótima reputação em Porto Alegre. Sentamos, e o garçom mal tinha empunhado a Bic para a comanda, e o baixinho de Arroio Grande já fez o pedido:
– Quero seis pastéis – ordenou, peremptório.
– Seis? É para levar?
– Não, é para comer aqui mesmo.
E eu de boca aberta. Como é que o Adãozinho sozinho iria comer os pastéis enormes da casa? Mesma opinião do garçom.
– Senhor, nossos pastéis são tamanho GG! Dois já seria um exagero.
O Adão pulou nas tamancas.
– O senhor quer vender ou não quer vender?
– Certo…
– Só tem um detalhe. Os quero sem recheio.
O cara do avental ficou perplexo.
– Como assim? Sem carne, ovo, sem recheio, só a casca? Pastel de vento?
– Isso mesmo.
Minutos depois, colocaram à sua frente meia dúzia de cascas de pastel. Adão comeu-as todas. Mais tarde, ele chamou o garçom.
– Veja a conta. Mas quero um desconto, afinal não tinham recheio.
O diabo era que nunca se sabia quando o Adãozinho estava falando sério.