Faleceu meu grande amigo Felix Peter, 91 anos completados dia 16, um dia antes da sua morte. Natural de Santa Teresinha, Bom Princípio, no Vale do Caí, o pai dele e o meu vieram da Alemanha ao mesmo tempo. O meu em 1920, após lutar em um caça-minas na I Guerra Mundial.
O pai do Felix e ele próprio sempre mostravam orgulhosamente a farda de gala que usou na mais sangrenta guerra mundial. No outro lado da casa dos Peter, ainda está a casa dos primeiros Selbach (minha mãe era Selbach), de 1858.
Passei momentos inesquecíveis nela na minha infância e juventude. Era ocupada pelo meu tio Arno, irmão da minha mãe, que foi prefeito de S.S. do Caí.
Nos anos 1950, as famílias Selbach se reuniam para o tradicional Kerb, que sempre é o dia do padroeiro da cidade. Como tenho lembranças fortes daquelas festas! Os almoços festivos, as sobremesas inesquecíveis feitas pelas tias, a conversa dos homens ao redor de um barril de chope resfriado em um buraco cheio de serragem e gelo.
Minha alegria era ouvir atentamente a conversa deles, pois geralmente contavam aspectos da vida dura que levaram nas colônias antes de ser alguém da vida. Dentre eles, a mortalidade infantil elevada, a falta de médicos, uma vida terrível.
O historiador Moacyr Flôres fez extensas pesquisas nos cartórios de toda a região e no Vale do Paranhana – Sapiranga e constatou que era comum pais batizarem seus filhos com o mesmo prenome. Motivo: um deles fatalmente morreria antes dos 10 anos, tamanha a mortalidade infantil.
Esse lado sombrio carece de divulgação e literatura, pois o povo da cidade grande não gostava dos colonos alemães que produziam alimentos que eles comiam. Você não tem ideia como eles eram ridicularizados, o que terminava em baixa autoestima destes bravos. É o lado ruim do Brasil.