Porto Alegre teve muitos deles, assim mesmo, em caixa alta. Causaram uma revolução quando apareceram. Viraram notícia de jornal, eram criticados, alguns apanhavam quando faziam seu trabalho.
Por certo que um ofício para corajosos ou seduzidos pelos ganhos relativamente bons. Os Homens de Vermelho eram cobradores na Capital gaúcha de 1959.
Naquele tempo, como dizia Jesus, uma empresa de cobranças teve a ideia de contratar funcionários vestidos de vermelho da cabeça aos pés, meias, sapato, tudo. Nas costas tinha o logotipo da empresa e em letras garrafais se lia “Cobrador”.
Nos primeiros tempos, foi um sucesso de vendas – de cobranças, melhor dizendo. Todos que tinham parentes, amigos ou clientes que lhes deviam dinheiro contrataram os caras.
Como toda a cidade sabia dos Homens de Vermelho, os devedores tratavam de correr para o escritório de cobrança a fim de evitar o vexame.
Imaginem a cena, bastava o cara apertar a campainha da casa para que todo o bairro soubesse que ele era caloteiro. Ninguém tem pena de um pelado. Quanto mais não seja porque adoramos falar mal dos outros. Com motivo, então, é uma festa.
Tempos depois, eles desapareceram. Eu era guri de colégio, não lembro bem se foi a Justiça, ou se os vermelhões começaram a suspeitar que o estresse e a possibilidade de uma coça de pau resultavam mais em custo que benefício. No entanto, alguma coisa ocorreu.
Certo dia, ocorreu-me o seguinte pensamento surrealista: e se um Homem de Vermelho fosse na casa de outro Homem de Vermelho que não pagasse suas contas?