Nos tempos em que eu era bancário, antes de ser jornalista, passei trabalho e até fome em anos de salário pouco e fome muita. Foi entre a segunda metade de 1965 até 1966. Eu tinha vindo de Montenegro e passei alternando moradia entre pensões e as “repúblicas”, grupos de amigos ou conterrâneos que dividiam casa ou apartamento.
Foi ruim, porque os bancos pagavam pouco e só depois que fui promovido no banco com salário melhor mais o salário de jornalista como repórter da madrugada. Aí deu uma aliviada, podia comer melhor e morar melhor.
A fome, essa malvada. Para ilustrar esse tempo, digo-vos que a pior coisa do mundo é dormir com fome. Com dinheiro só para a passagem do bonde, não podia sonhar nem com um lanche digno desse nome.
A salvação era um tijolão chamado Mata-Fome, restos de bolos socados em formato de tijolo. Não era lá essas coisas. Entretanto, estômago com fome é igual à avestruz, que come até botão. O Mata-Fome ideal era o que vinha acompanhado com uma batida (vitamina) de abacate (com leite).
Então eu era um sujeito feliz. Ia para meu humilde tugúrio dormir com o estômago cheio e fome zero.