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O que não mata engorda

Com esse calor, todo cuidado é pouco ao ingerir alimentos processados, que são vendidos ou oferecidos. Não é de hoje que intoxicações em massa atrapalham a vida de muita gente. Nestes casos, a incomodação maior é para quem fabricou ou vendeu essa barbaridade.

Para dizer a verdade, não sei como ainda não houve uma intoxicação em massa com os 40 graus que tem feito. Até porque as pessoas não têm o hábito de lavar as mãos antes de pegar o alimento e levá-lo à boca.

Sim, tem álcool gel em boa parte das operações gastronômicas. Mas depois que o perigo da pandemia passou, ele só é usado por alguns recalcitrantes temerosos como eu. Quem mais usa o álcool 70 são as atendentes das lancherias que o usam para limpar as mesas.

Aí vem a questão do álcool gel. Usa-se álcool 70 e não o 90 porque este último evapora depressa e não dá tempo para matar todos os bichinhos.

Isso o líquido. Já em gel vai perdendo efeito e acaba sendo um sopão grosso de bactérias. Sinto muito se estraguei seu apetite, mas esses seres minúsculos – um montão a gente não enxerga.

Em resumo, depois de um certo tempo, parece uma Placa de Petri, uma espécie de cera na qual se colocam antibióticos diferentes para ver se mata melhor as bactérias. Tudo isso para o médico não ficar dando tiro de espingarda 12 no escuro sem ver o alvo.

Mas aí já é outra vereda tropical, não quero ser acusado de charlatão bioquímico. Vou ficar é na boia contaminada que ganho – ou perco – mais.

No passado, a campeã em levar gente ao hospital era a salada de maionese caseira, feita com ovo mesmo. Essa de hoje é industrializada, não oferece perigo. No entanto, perde gosto.

Era comum em festas de casamento. Para desgosto dos noivos que, não raro, também sofriam o efeito dos convidados.

O primeiro procedimento, uma vez constatado o derrame intestinal, era entrar no soro. Muitos casamentos se tornaram inesquecíveis devido a esses convidados minúsculos bem trapalhões. 

Não me perguntem porque, mas pastel e croquete de rodoviária e pé-sujo não geram hospitalizações em grande número.

Talvez pelo efeito Lavoisier, nome do químico francês que cunhou uma frase que atravessa os séculos. “Na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”.

De fato, hoje sabemos pelos físicos que é muito difícil destruir a matéria. Na prática, a carne sobrada de hoje vira o croquete de amanhã.

Senti isso quando estava no internato do Colégio São Jacó, em Hamburgo Velho, hoje Feevale. Muitos amigos e conhecidos também estudaram nesse colégio marista, como Júlio Mottin, Lalo Corbetta, hoje grandes empresários e todos cobaias do cozinheiro Romualdo.

Sobrevivemos todos. Tenho por mim que, graças a imunidade adquirida pela ingestão destas gororobas, meu estômago dá olé em muita bactéria. Na época, se dizia “O que não mata engorda”. Verdade. Foi assim que engordei.  

Certa vez, ofereceram-me, no meu local de trabalho, minicachorros-quentes que estavam guardados na geladeira. Não sei por quantos anos.

A autópsia revelou que a salsichinha foi feita com os restos mortais do primeiro cachorro-quente vendido na frente do Colégio Rosário em 1959. Como ele foi embalsamado não sei. Mas posso garantir que o gosto e o aspecto era de uma pequena múmia egípcia.

Como disse, o que não mata engorda.

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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