Sabem o que realmente me incomoda? O fim da sensibilidade e a chegada da insensibilidade. Ninguém mais se toca nas artes, na música bonita seja qual for o gênero, – música é uma sequência de sons agradáveis aos ouvidos.
Além disso, foi-se o prazer de ler, o prazer de admirar um belo quadro dos grandes mestres, de se sentir tocado com o sofrimento dos outros. Hoje, a estética vem dando lugar ao mau gosto, com a ajuda decisiva da televisão, com as falsas lágrimas de crocodilo dos apresentadores, a banalidade do mal como escreveu a alemã Hana Arend.
Ocorreu até o desaparecimento das belas marchinhas de Carnaval. O que vemos é o império das bundas siliconadas, a garotada com cabeça de vento. Isso que é doloroso.
O pior para quem tem idade, como eu, é a velocidade das mudanças rumo a nada bem antes do que eles pensam. Já nem falo no Brasil, um país que quase tudo está errado, um país tremendamente injusto com a primeira e segunda classes, como o fato de até os ministros do Supremo não precisarem pagar seus celulares. Claro que a conta vai no lombo da segunda classe, que recebe uma aposentadoria humilhante, após trabalhar toda a vida.
Enquanto isso, a primeiro classe ganha salários como se ainda estivessem trabalhando e com aumento. E a certeza de que não temos futuro com 45% de analfabetos funcionais. Uma tremenda falha na educação, começando pelo ensino fundamental e terminando na faculdade. Para, então, exercer, mal e porcamente, sua profissão com o canudo da incompetência.
Sim eu sei, não são todos. Entretanto, em vez de me alegrar com este fato, torno-me mais melancólico exatamente por ser uma minoria. E uma sociedade apática que não quer ver a marcha rumo à sua própria destruição.
E já fomos tão diferentes… Nossa! Quando você chega na minha idade e vê que somos como gnus em migração procurando pasto melhor. E gnu não pensa.