Tenho um fraco por losers, os perdedores, que, acima de tudo, mantêm a dignidade. Embora o conjunto de circunstâncias da vida alinhadas perfeitamente jogam um bom ser numa ciranda azarenta sem fim.
Um dos meus preferidos chamava-se Moacir Ribeiro, o Poeta Maldito como se autodefiniu. Conheci-o nas madrugadas geladas por fora e quente dentro do Bar Leão, na Rua dos Andradas. Foi nos meus tempos de reportagem policial na Zero Hora de Ary de Carvalho, no final dos anos 1960.
Rapaz, o Moacir tinha grandeza. Trabalhou no extinto Diário de Notícias, que já foi um grande jornal gaúcho e depois morreu após longa agonia. Certa noite, ele declamou um poemeto que começava assim:
– Hoje amanheci com uma vontade louca de brigar com Deus!
E terminava assim:
– Você não entendem nada de ternura humana…
Quando a sorte madrasta o excluiu de qualquer emprego decente, já na casa dos 60 anos, vivia de biscates. Certa vez, o vereador Glênio Peres conseguiu que o síndico do seu prédio, na mesma rua, empregasse o poeta como porteiro.
Não era lá um grande salário. No entanto, pelo menos, ficava longe do vento cortante do inverno, que encanava na Rua da Praia. Deu-me ciência da sua boa ação.
Algum tempo depois, perguntei ao grande vereador como Moacir Ribeiro estava se dando na função. Peres ficou triste.
– Tiveram que despedi-lo, e foi contra minha vontade. Antes de entregar as assinaturas, ele escrevia um versinho na capa do jornal. Os moradores reclamavam, mas ele continuava na sua pregação poética.
Vejam só que mundo cruel. Despedir alguém porque escreve poesia no jornal.