Quando a televisão chegava a poucos, com imagens em P&B e resolução pavorosa, reinavam os cinejornais, que eram exibidos nos cinemas antes dos filmes. Havia um internacional ótimo, o Atualidades Francesas, os nacionais Canal 100 e os locais, Leopoldis Som e DG Filmes entre eles. Assuntos poucos, inaugurações, elogios ao governante de plantão, filmes curtos de corridas de automóveis. Além disso, um que outro jogo de futebol.
Não raro, faltava assunto para fechar os 8 ou 10 minutos de duração do cinejornal. Assim como hoje é o pôr do sol de Porto Alegre o tapa algum buraco nos jornais, nos anos 1950 e 60, o fecha era o Zoológico. Invariavelmente a chamada era “Um domingo do Zoo”.
E lá vinham imagens da criançada de olhos arregalados ao ver um felino de grande porte comendo pipoca e outras imagens da bicharada. No entanto, percebi que um dos menos filmados era o hipopótamo. E eu sempre me perguntava o motivo. Aí a revelação veio aos poucos.
Animais agressivos e antissociais, marcam território jogando volumes inacreditáveis de bosta na água. O detalhe é que, para ampliar o seu espaço vital, usam seu rabo como hélice de avião, jogando bosta bem longe pela lateral.
Invariavelmente, algum ignorante deste hábito postava-se na lateral do hipo, quase rente à sua traseira. O material é lançado para além da cerca do seu habitat.
Era por isso que os cinegrafistas não gostavam de filmar hipopótamo. O deslumbramento inicial se dissolvia como gelo no Saara após levar um banho de bosta.