Nos tempos da velha Polícia Civil, anos 1960, havia um comissário que tentava, sem êxito, falar um português correto quando na presença de jornalistas. A forma como falava remetia aos cantores bregas dos programas de auditório nos anos dourados do rádio. Os dizeres vinham acompanhados de caras sofridas, como se tivessem atingido um nervo exposto do dente com uma bola de sorvete.
– Você jamais saberás, queridaaa…
Certa vez, ele se referiu aos motivos da prisão de um falso malandro pemba na gíria de então – que inventou de fumar um baseado bem na frente da casa dele.
– Homossexual, toxicomano e alcolátra.
O xis tinha o som de xis mesmo; toxicômano sem circunflexo e alcoólatra sem um O e com acento no A. Mas insistia em usar termos que, na boca dele, sofriam estranhas reviravoltas.
Um dia, surpreenderam-no aceitando uma contribuição “para a polícia” e um cigarro de maconha de um traficante pé de chinelo, sem eira nem beira. Questionado por um repórter, indignou-se.
– A minha vida é um livro aberto. Não uso drogas, Não tenho nenhuma sevícia.
Pior que tinha.