“…fruto de uma incursão paraguaia, só tinha guaranis.”
Em épocas passadas, o Brasil foi campeão em troca de moeda. Trocamos de moeda como quem trocava de cueca. Cruzeiro, cruzeiro novo, cruzado, real, uma babilônia que não resultou em maiores comoções populares. Numa dessas mudanças, nos anos 80, o Marcus foi comprar uma erva da boa de uma traficante famosa da época, a Nega, que tinha um entreposto de cannabis na Vila Bom Jesus, Zona Leste de Porto Alegre. Boca braba. Marcos estava duro, duríssimo. Fruto de uma breve incursão paraguaia, só tinha cédulas de guaranis paraguaios. Um monte deles mal pagava uma cerveja. Foi à boca, comprou a erva e mostrou as notas para a Nega. – Que dinheiro é esse que eu não conheço? Marcus até pensou em dizer que era alguma moeda européia, mas o portfólio de clientes da empreendedora era vasto e convinha não arriscar. – É o dinheiro novo que vai sair, o cruzeiro supernovo. Desconfiada, analfabeta e desconfiada porque analfabeta, Nega cheirou as cédulas e arriscou. Marcus saiu de fininho com as trouxinhas de maconha. Dias depois, ficou sabendo que Nega despachara-se um “procura-se vivo ou morto” na Vila Bom Jesus e arredores. Riram da sua cara quando ela tentou passar o cruzeiro supernovo adiante.