Dono de um prestígio sem precedentes na sua cidade nos anos 1950, localizada na região da Campanha do Rio Grande do Sul, um pacato cidadão foi instado a concorrer na eleição para prefeito. Seria fácil como tirar pirulito de criança, garantiram os impulsionadores.
O homem era presidente de todos os clubes de serviço, clube de futebol. Qualquer que fosse a agremiação o bom homem estava lá, sempre carregado nos ombros do povo.
Ele relutou muito e só aceitou depois que sua mulher deu uma prensa federal, tímido que era. Ninguém tinha dúvidas, ele seria o prefeito mais votado da história do município e quiçá do estado.
Marcaram o comício de abertura da campanha. No dia aprazado, a praça estava lotada de gente para assistir o comício.
No palanque, o candidato suava em bicas. Quando anunciaram que ele falaria vieram aplausos antecipados. Depois, silêncio absoluto.
Só que sobreveio o imponderável. O homem era tão tímido que entrou em pânico. Não saía nenhum som da boca. O maxilar inferior tremia como vara verde.
Passaram-se segundos que pareceram uma eternidade. Vendo que desse mato não sairia coelho, a mulher do candidato tirou o microfone da sua mão e gritou a mensagem amplificada pelos alto-falantes.
– Meu povo, eu vou falar porque meu marido não é de nada!
Naqueles tempos, a expressão significava outra coisa, bem pior. Tinha a ver com sexo. O resultado da eleição? Adivinhem.