Estava eu debruçado na tela do computador lendo as últimas notícias sobre o Dia Internacioanl de Nelson Mandela, quando lembrei do romance do inglês Evelyn Waugh (1903-1966, homem apesar do nome feminino), o Memórias de Brideshead, transformado em uma excepcional minissérie pela BBC aqui exibida, no final dos anos 70 pela Bandeirantes, se não me engano. Na essência, contava a saga da família de nobres católicos ingleses Marchmain entre as duas grandes guerras.
Em uma das cenas, o patriarca da família, papel do grande ator Laurence Olivier, passa mal e tem falta de ar. Enquanto aguarda o médico da família, chamado às pressas, grita pedindo que abram mais as janelas do seu quarto no castelo de Brideshead, pois estava com falta de ar. E brada aos céus mais ou menos assim:
– Senhor, o que eu fiz para merecer esta maldição? Fui obediente a Deus, só bebi bons vinhos e tive boas mulheres. O que eu fiz de errado?
Hoje pegaria mal, soaria mal. Na época, anos 1930, talvez não – o livro é de 1945. Em seguida, aparece o doutor, que receita alguns medicamentos e se dirige para o carro levado pelo fio condutor da história, o soldado Charles Ryder. Enquanto Ryder ajuda o médico a botar o sobretudo, ele faz a ansiosa pergunta que gostaria de ser verdade.
– Ele tem muita vontade de viver, o senhor não acha?
O doutor joga sua maleta no banco de trás do carro, dá mais uma volta no cachecol no pescoço para suportar o frio daquele céu cinzento inglês, e fala gravemente a Ryder.
– Meu bom rapaz, não confunda vontade de viver com medo de morrer. É disso que se trata.