Um baralho de cartas pode fazer um mal danado numa relação. Nas minhas viagens ao interior do Rio Grande do Sul, conheci um familiar distante, um sujeito simpático e contador de histórias da primeira divisão.
Por várias vezes nos encontramos ao longo das últimas décadas e ele sempre tinha um causo novo para contar. Da última vez, quando ele já tinha passado dos 65 anos, encontrei-o num bolicho molhando as palavras. Já tinha gasto duas cervejas nesse trabalho, então elas saíam leves, livres e soltas.
Homem cumpridor dos afazeres conjugais, começou a perceber que a perpétua já não tinha mais o mesmo apetite sexual. Ao contrário, o dele não só aumentava como também, especialmente depois de ler o Kama Sutra, presente de Natal de um afilhado.
Na ponta dos cascos, descobriu na argentina Libres uma livraria que vendia um baralho erótico. Cada carta dos quatro naipes mostrava no verso fotos de variações sexuais entre homem e mulher. Os 50 tons de cinza na versão hard.
Teve uma ideia luminosa. Quando ela não estava, espalhou todas as cartas em lugares estratégicos da sua casa, debaixo do travesseiro, no armário do banheiro, na penteadeira, no guarda-roupa e até no forno do fogão a gás. Quando a mulher voltou, esperou que o conteúdo fotográfico a excitasse.
Nem 15 minutos depois ela apareceu, furibunda. Deu-lhe uma sumanta de toalha molhada, tinha visto a que ele pôs na penteadeira. Com as costas doendo resolveu cair de banda. Mas eis que ela achou uma segunda carta posta embaixo do travesseiro.
Para encurtar a história, levou uma sumanta de pau por quase dois meses. Afinal, um baralho tem 52 cartas.