O Chalé da Praça XV de Porto Alegre viveu anos de glória já na década de 1920. Mais tarde, assumiu a concessão o austro-brasileiro Ernesto Moser, também proprietário do Restaurante Dona Maria, na rua José Montaury, hoje uma loja. A galeria de tipos do Chalé era enorme.

Um deles era um funcionário público aposentado, não se enquadrava no figurino dessa galeria de levantadores de copos, sempre bebericando um Guaraná, uma blasfêmia. Sentava-se sozinho, mas puxava conversa com habitantes das mesas vizinhas. Aposentado, alardeava ter um bom capital em ações na bolsa.

– Mas sou marxista – dizia entre um gole e outro do refrigerante.

Em meados dos anos 1970, comunicou solenemente a quem quisesse ouvir – e ninguém queria – que faria uma viagem de trem por toda a então República Democrática Alemā, que de democrático não tinha nada – o regime comunista fugia como o diabo da cruz da democracia de verdade.

Foi. Voltou dizendo que não era mais marxista. Mas o que houve na viagem ao paraíso comunista? Meio que em choque, contou que foi reconvertido ao capitalismo.

– Estava eu esperando baldeação do trem em cidade do interior e joguei a bituca do cigarro nos trilhos. Saída não sei de onde, veio uma senhora com aparência de tanque panzer. Era a comissária do povo. Ela reuniu os passageiros na plataforma e me deu um sermão de meia hora sobre jogar a bituca no lixo e não nos trilhos, como inadvertidamente fiz. Meia hora! E os chucrutes rindo de mim!

Silêncio de um minuto.

 – E comunico que desisti de ser marxista. Que vão para o raio que os parta comissárias do povo e todos os comunistas! Não se faz isso com um camarada de partido!

 Houve alguém que cochichou algo sobre o marxismo ter seu lado positivo, no fim das contas. Pelo menos neste caso.