Em momentos como este que vivemos, desfaço-me de pensamentos lúgubres e coloco algumas boas lembranças no lugar, lembranças que me fazem sorrir quando as recordo. Uma delas é a do Bar Arthur, cujo prédio ainda existe, na Alberto Bins, a uma dezena de metros do Viaduto da Conceição à direita para quem vai ao Centro.
Um fenômeno de bar-chope, pequeno, três ambientes minúsculos com sete ou oito mesas idem. O bar é dos anos 1920 e perderam-se nas brumas do tempo a sucessão de proprietários. O mais famoso era o seu Helmuth Klein, ajudado pela sua irmã, a Margô.
O sanduíche aberto era fenomenal. Mas não só dele que se vive. Serviam pratos alemães que estão desaparecendo, como o sültzen (uma forma de gelatina de porco com lascas de pernil).
Assisti a embates lendários entre frequentadores como o desembargador Telmo Jobim, uma grande figura, e o ministro do STJ João César Krieger, que eram muito amigos.
Logo depois da entrada um pequeno balcão separava a plebe rude e a Margô. Em cima dele ficavam vidros de ovos em conserva e rollmops, aqueles peixes em conserva de vinagre e finas ervas, enrolados em camadas a partir das laterais do vidro e preenchendo todo o espaço depois.
Pois um vereador da cidade, C.G, um dia me disse que o Artur servia “conserva de cobra”, jurando que nunca comeria aquela droga. Custei a entender, mas ele se referia ao inocente rollmops, o brilho das escamas dos peixes era vagamente parecido com uma cobra prateada.
Um pouco adiante, dobrando a rua da Conceição, um alemão de Estrela tocava uma lancheria/churrascaria, que sempre regurgitava de gente. Nos domingos de manhã, mais cedo, a freguesia jogava pelada em um trecho pequeno de calçada larga, ou em um mini gramado em frente à Rodoviária, mais adiante.
Um dia perguntei ao dono se os dois “estádios” tinham nome. E ele, muito sério, disse que tinham sim. Pela ordem: o Monumental da Conceição e o Colosso da Rodoviária.