O Aeroporto Salgado Filho está para o Rio Grande do Sul assim como o Trensurb está para Porto Alegre. Como ele não vem para Porto Alegre, a última parada (ou saída) é no bairro Mathias Velho de Canoas. As águas causaram muitos estragos nos trilhos-dormentes e nos equipamentos eletrônicos que fazem a telemetria.
Só ontem conseguiram esvaziar o pátio do trem nas imediações do aeroporto. Antes do final do ano, só a pé nós iremos.
Para se ter uma ideia do estrago que o trem faz enquanto não voltar ao Centro, basta dizer que entre 200 e 300 empregados das bancas dos Mercado Público não comparecem ao trabalho porque moram na Região Metropolitana e dependem desse meio de transporte para chegar ao Mercado. Desgraça nunca vem sozinha.
O tempo do tesão
Assim posso classificar o sentimento que paira no Mercado Público com a volta de 50% das operações. Os mercadeiros, como são chamados, estavam entusiasmados com a volta, que eu chamo de a volta dos que não foram.
A maioria já pensava em recuperar seus espaços ainda no auge da enchente. Sim, foi difícil, muitos não tinham como bancar a recuperação das banca. Mas, com o tempo, 100% delas voltarão a vender seus produtos.
Me tira o tubo
Conhecem aquela sensação de ter o dia estragado? Pois foi a que eu tive ontem de manhã ao ler que ministros do governo Lula, incluindo o ministro que é gaúcho e teoricamente trata dos interesses gaúchos junto ao governo da União, afirmaram que, até o final do ano, o estado volta a ter a economia de antes da enchente. Meu Jesuscristinho! É não ter a pálida ideia dos estragos causados.
No campo e na cidade
Só na indústria, em torno de 75% delas foram afetadas pelas águas que rolaram. Sendo que boa parte perdeu equipamentos e negócios deles resultantes, sem falar nos estoques perdidos.
E aí vem sua excelência dizer, com a retaguarda sentada em cômodas poltronas de Brasília, uma barbaridade dessas. Bastava ler os relatórios das três mais importantes entidades empresariais do estado, Fiergs, Farsul e Fecomércio.
A cor do gato
Deng Xiaoping se tornou o líder supremo da China, no final de 1978, por um golpe. Lançou a Reforma e Abertura, que abriu uma nova era na China.
Nesse período, introduziu diversas medidas que caracterizaram a reforma econômica, a “segunda revolução”, como ele dizia, responsável pela completa transformação do país. Os resultados vemos hoje, com um país que tem comunismo só no nome.
Criticado por dirigentes ortodoxos do PC chinês pelas mudanças criadas, Deng deu de ombros e proferiu uma palavra que ficou famosa: “Não importa a cor do gato, desde que ele cace ratos.”
Gatos de plantão
O Brasil nunca conseguiu ter um gato caçador de ratos. Os que teve foram presos ou desacreditados. Ao longo de décadas, tivemos uma sucessão de gatos preguiçosos e malandros incapazes de enxergar além do horizonte. Uma visão binocular que só contemplava a permanência no poder.
O povo? Um mero detalhe. Serve só para votar no bichano de plantão.
Temos outro por dentro
A minha São Vendelino sofreu novamente os efeitos da enchente causada pelo arroio Forromeco. São quatro enchentes em nove meses.
O meu fio d’água, que eu atravessava com duas ou três braçadas, virou um ser monstruoso e assassino. Nisso a natureza imita a natureza humana.
O ser humano são dois, o exterior e um interior, o inconsciente. Algo que não conseguimos controlar, capaz das maiores barbaridades sem que possamos controlá-lo ou mesmo saber dele. Como micróbios, sabemos que existem, mas só os detectamos quando nos causam doenças.