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Via crucis

Hanger, Timol e Krunker. Não sei se a grafia é essa, porque foi apresentado a esses senhores há 55 anos. Nem no Google achei a grafia correta.

Eram conhecidos como as três provas hepáticas. Você achava que seu fígado estava pedindo socorro, especialmente depois de alguns porres. E então ia ao médico ou simplesmente ia ao laboratório de algum amigo para tirar a dúvida.

Naqueles tempos, estas três referências davam seu quadro pelo critério de cruzes que vinham nos resultados. Uma cruz em uma ou duas, quase normal, acima de duas preocupava. Com quatro e quatro nas três você ganhava o campeonato.

Aprendi tudo isso quando dividia um apartamento com três amigos, e um deles estava no último ano de bioquímica. Chama-se Geraldo Mottin. Faleceu prematuramente.

Como ele acordava mais cedo para a aula da Faculdade, eu servia de cobaia. Várias vezes acordei sentindo uma picada mais ou menos dolorosa. Era o Gera tirando meu sangue para as aulas práticas. Aliando à minha curiosidade a expertise do Geraldo, fiquei sabendo das tais provas hepáticas. Não sei se hoje ainda existe esse trio.

Aprendi que os reagentes – hoje chamados de reativos – contaminados ou de procedência duvidosa podem dar falsos positivos e falsos negativos. Como hoje, aliás. Vai daí que um dia um conhecido que trabalhava em um laboratório de análises clínicas desconhecido se ofereceu para fazer as tais provas.

Levei um susto com o resultado. Eu tinha QUATRO cruzes nas três! Corri para o Laboratório Faillace e pedi para fazer o mesmo exame. Contei o meu problema para o cara que me atendeu, acho que Renato Faillace. Ele deu uma risada.

– Se você tivesse quatro cruzes nas três provas não estaria aqui de pé, estaria se arrastando ou já posto em sossego em um lugar cheio de cruzes de verdade.

Saiu o resultado. Zero cruzes. Absolvido pelo Hanger, Timol e Krunker.

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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