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Uma ferrovia por ano

Apareceu mais uma intenção de colocar trem entre Porto Alegre e Gramado, o que reduziria o percurso para uma hora. Custaria 3 bilhões de reais e, com todo respeito, du-vi-de-o.

Para cumprir o prometido, esse trem teria que fazer pelo menos 150 km/h. Trens de passageiros só dão lucro com demanda plena, sempre lotados. Mas o problema maior não é esse.

O Rio Grande já teve ferrovias em número razoável, mas ainda tímidas até a década de 1969. A criação da Rede Ferroviária Federal foi aniquilando as linhas. Paulatinamente, os trilhos e a área lindeira foram cedidos ou vendidos a preço de banana.

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Em resumo, não existe mais o traçado. Portanto, para uma nova ferrovia, teriam que ser investidos bilhões e bilhões em desapropriações e compra de áreas. Ou uma linha aérea, que também precisa ter espaço comprado para pilares de sustentação.

Nem um, nem outro

País curioso este nosso. Quando o governo se decidiu pelo rodoviarismo, em 1958, deu sinal verde para o fim das ferrovias de passageiros. De lá para cá, perdemos trens. E nem por isso temos rodovias no sentido amplo da palavra. Maioria é de pistas simples, que respondem pela maior parte dos acidentes.

O trem húngaro

Em meados de 1974, a Rede Ferroviária Federal deu uma sobrevida ao trem de passageiros com o trem húngaro, vindo do país do mesmo nome. Fazia uma só linha, de Porto Alegre a  Uruguaiana, via Santa Maria, Cacequi, Cachoeira do Sul, Alegrete.

Não podiam ser velozes porque a bitola das ferrovias gaúchas era de apenas 1 metro. Foi herança do temor de uma invasão argentina nos anos 1920 e 1930, cuja bitola era de 1m20cm, permitindo velocidades acima de 100 por hora.

Os vagões tinham amplas janelas, ar condicionado, bar e restaurante e, no início, “ferromoças” para atender os pedidos. Partia de Porto Alegre às 19h e chegava em Uruguaiana porque primeiro precisava ‘”subir” para Santa Maria para depois “descer”. Vê  se pode uma coisa dessas.

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Durou até a década de 1990, porque os passageiros preferiam os ônibus que levavam pouco mais da metade do tempo. Mas eu adorava o húngaro. De noite, os janelas permitiam a entrada da luz da lua ou ver a chuva forte sem medo do “motorista”, o maquinista, perder o controle do trem. 

O trem húngaro tinha um dispositivo comum em metrôs, o freio do homem morto. Uma alavanca precisava ser acionada de xis em xis segundos. Caso contrário, era automaticamente acionado o freio de emergência caso o maquinista dormisse ou tivesse um mal súbito.

Às vezes é melhor ter ausência de corpo que presença de espírito




Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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