O tema traição é um dos mais invocados na música popular brasileira. Geralmente, são letras chorosas do traído. Outras são relatos de um observador.
Os Demônios da Garoa têm pelo menos três no seu repertório, e com sua característica que é de cantar as alegrias e tristezas do povão, graças à genialidade do compositor Adoniran Barbosa, nascido João Rubinato. Ele sabia como ninguém unir o patético com o sublime, por isso é imortal. Uma delas é Apaga o Fogo Mané, cujo final é assim.
Voltei pra casa, triste demais
O que Inez me fez não se faz
E no chão bem perto do fogão
Encontrei um papel
Escrito assim
Pode apagar o fogo Mané
Que eu não vorto mais
A outra conta a história do Raimundo na “Bem feito”,
Depois de uns quatro meses de vadiação
Raimundo chegou devagar no barracão
Entrou, parou, não viu Rosinha no fogão
Sentiu um não sei o quê no coração
Num bilhetinho sobre a palha do colchão
Rosinha despediu-se escrevendo assim
Amor que vive de brisa
É bom mas não dá camisa
Não Sou Amélia
Por isso vou cuidar de mim
Raimundo nunca teve consideração
Passava as noites na rua
Cantando sambas pra lua
Bem feito pra que esquece da obrigação.
A vida no morro não difere da vida da cidade, penso eu.