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Pobre João

O jornalista Gilberto Michaelsen, de Gramado, contou no site do colega Miron Neto que foi confundido com duas pessoas em um curto espaço de tempo. Da primeira vez o funcionário de um supermercado achou que ele fosse o prefeito; da segunda, um médico local o espinafrou achando que ele fosse o Miron.
Lembrei de um acontecido dentro de um cinema nos anos 1950 em cidade do interior. O filme se desenrolava e um cara na plateia embestou que o espectador careca sentado na sua frente se chamava João. E comentava o filme com ele, era João pra cá e pra lá.
– Ô João, tu viu essa do galã? Como pode alguém ser tão ingênuo!
O da poltrona estava enlouquecendo, mas achou melhor não responder.
– João, tu reparou que a mocinha só fingiu que beijou o namorado?
Suspiro.
– Mas que bosta de mocinho mais burro! Joãoêêê, como é que ele não viu a pistola na mão do cara, João?
Ouvem-se soluços.
– João de Deus, o cara é bom de briga, hein João!
Ouve-se um choro convulsivo.
– Tu já reparou que sempre tem gente espiando atrás da porta nesses filmes, hein João?
O falso João levanta com tal velocidade que no vácuo quase arrasta a poltrona e senta numa poltrona no canto da primeira fila.
Minutos depois ele recebe um tapa de mão espalmada na careca, acompanhado de uma voz com bafo de pipoca na nuca.
Ah, tu taí, João? Tu sabe que tinha um cara igualzinho a ti sentado na poltrona da minha frente?

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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