Ano de 1956, cidade de Nova Prata, Serra Gaúcha. O então radialista Saul Júnior “pegou” de speaker da rádio local e caprichou no programa.
Salário mixuruca, o que não era novidade na época, muito menos hoje. No entanto, o dono da estação explicou ao Saul que ele poderia complementar seu salário com uma comissão de 20% da publicidade que conseguisse.
Saul foi à luta, que consistia em vender 5, 10 e 20 textos por dia, o máximo permitido. Lojas, bancos, oficinas, tudo já tinha propaganda na rádio. Vendeu zero.
Quando estava por desistir, lembrou-se que havia um posto de gasolina e uma borracharia na saída de Nova Prata, o Posto Paludo, de Vicencio Paludo. Foi direto ao dono vender seu peixe.
Um exultante Saul ouviu um sim do dono. Poderiam ser cinco textos?
– Não, que quero 20 – disse ele com forte sotaque italiano. – Eu quero 20 reclames por dia.
O ganho mensal do Saul aumentou cinco vezes só com a comissão do Posto Paludo. Poucas semanas depois, o dono do posto chamou o speaker para uma conversa. Saul temeu o pior. Perguntou se ele queria cancelar a propaganda.
– Não, não. Eu quero aumentar.
Então explicou que, depois de programar a rádio, as vendas de combustíveis aumentaram bastante. Portanto, queria mais do que 20 textos diários. Saul que se virasse como encaixá-los.
Passaram-se os anos, Saul virou colunista de Zero Hora. A empresa do gringo Paludo cresceu, dobrou, triplicou, diversificou. Hoje, Nova Prata é sede da gigante Vipal Borrachas, contração do nome do fundador. É uma das maiores, se não a maior, do setor no país.
E tudo porque seu Vicencio enxergou mais longe do que a concorrência. Todos os empresários são iguais. Mas uns são mais iguais do que os outros, com licença do escritor George Orwell, um cara que sabia das coisas.