Os casais esvoaçavam pelo salão rústico em danças rudes e imperfeitas, ao som de improvisados instrumentos de corda que ninguém realmente sabia tocar. Do tosco instrumento de fole saía um estranho som mais parecido com um ataque de asma que música.
Entretanto, todos bailavam felizes e acometidos de um frenesi inexplicável. As mulheres levantavam as pesadas saias para sugerir que a casa final era de quem se atrevesse e da invasão elas não protestaram. Quase dava para tocar a libido que impregnava o ambiente.
A festa de casamento começara cedo naquele dia e seguia noite e madrugada adentro. Bebiam vinho zurrapa e um líquido amarelo que deveria ser cerveja ou algo assemelhado.
Carnes de caça cruas ou queimadas eram devoradas e imediatamente repostas, algumas ainda sangrentas. Os noivos dispensaram a saída na surdina, eles estavam deitados em cima da mesa a centímetros dos rostos dos convidados.
Todos, naquele amplo ambiente enfumaçado, cheirando a suor, vinho azedo e sexo, não tinham real consciência que estava dominados pelos demónios da dança. Algo que os aldeões mais antigos sussurravam para os mais novos, que ansiavam ser possuídos por eles. Cuidado, diziam os velhos sábios, há castigo para quem se deixa dominar por eles.
Num determinado momento aparece um padre buscando passagem para ir para a casa de um devoto em agonia. Familiares queriam que o quase-finado recebesse a extrema unção.
O problema era que a turba em frenesi se postava na frente dele, dançando e impedindo a sua passagem. O homem de Deus não conseguiu ir na casa do moribundo, que acabou falecendo sem receber os últimos sacramentos.
Neste momento, já quase raiando o dia, todos saíram para os campos totalmente bêbados e sempre dançando. Os demônios da dança extraiam deles a última grama de energia.
Como os mais velhos sussurravam, veio o castigo. Quando o sol firmou no céu azul sem nuvens, um inexplicável vento varreu toda a região. Todos os participantes daquele bacanal foram convertidos instantaneamente em pedras, sem nenhum vestígio que algum dia eles foram humanos.
É assim que os franceses da Bretanha explicam a origem da grande quantidade de rochas mais ou menos da altura de um homem que estão postas em um pedaço daquela região no oeste da França.