Diante da profusão de produtos piratas e falsificações disponíveis em praça pública e no comércio formal, posso dizer que, nos anos 1960, até as falsificações eram mais honestas. Daquela década até a de 1970, um dos produtos mais falsificados foi o uísque importado. Claro que as garrafas eram preenchidas com uísque nacional, até que um patife inventou de falsificar a bebida em fundo de quintal.
Antes de chegar no estômago, o fígado já protestava. Vale lembrar que uísque estrangeiro custava uma pequena fortuna, especialmente o scotch. Nos 70 foi a vez dos vinhos alemães do Reno e Mosela, garrafas marrom e verde.
Foi nessa década que os vinhos chilenos atraíram os brasileiros. E posso dizer que um restaurante entre a Independência e a Gonçalo de Carvalho foi o pioneiro a servi-lo. Nesta época, o espumante brasileiro era produzido com vinho branco de última. E, salvo dois ou três rótulos de vinho tinto, os demais davam azia até em copo de bicarbonato.
Nos artigos de perfumaria não tinha que falsificar. Garçons de boates vendiam estojos de maquiagem para mulheres, desodorantes ingleses em bastão, que vinham dentro de uma lata, a mais estranha embalagem que vi na minha vida.
Já as lâminas de barbear Wilkinson faziam a barba mais vezes que a nossa Gillette. E, claro, perfumes franceses que levavam as mulheres à loucura, especialmente o Chanel número 5. e o Cabochard. Para a vila criaram uma mistura chamada Amor Gaúcho, que servia como repelente de homens e de insetos.
Era tempo em que quase todo mundo fumava. Então, isqueiros como o Ibelo Monopol (retangular), o Ronson era o preferido, Zippo, parecido com os isqueiros nacionais, que se abre uma tampa. Não apagava com o vento, e a lenda era que ele foi fabricado para os soldados aliados na II Guerra Mundial durante a Invasão da Normandia, região com fortes ventos. Era abastecido com fluido de isqueiro e depois por gás, te mete.
Para os homens, o perfume usado era o Lancaster, mais barato que os franceses. Para a pobreza, a loção pós-barba de baixo custo Água Velva. Alguns barbeiros faziam a barba com navalha e depois perguntavam se o freguês queria ARCO ou TARCO (álcool ou talco) no rosto. A resposta vinha no mesmo tom:
– VERVA.