No tempo em que se usava máquina de escrever, era condição sine qua non para se obter qualquer emprego mais qualificado era saber “bater à máquina”. E era preciso ser rápido e escrever com um mínimo de erros.
Ainda tinha que alinhar o texto na margem direita, não essa moleza de hoje em que o computador faz tudo automático. Havia escolas de datilografia, nas quais se ensinava a usar os 10 dedos. Eu, humilde marquês, como dizia o jornalista Vanderlei Soares, usava dois e os polegares para a barra dos espaços.
Chama-se essa técnica de “dedografia” ou catadores de milho, usando os indicadores. E posso garantir que eu era bem rápido. Como para escrever em lauda de jornal, as correções podiam ser feitas depois com Bic, ninguém dava muita bola porque havia uma função na redação chamada copidesque.
Ou seja, a turma que reescrevia textos para depois rumar à área técnica. CDF mesmo só fora de jornal, como no banco em que comecei a trabalhar com 17 para 18 anos.
– Não vais longe na carreira sendo como dedógrafo – implicava meu chefe. Tens que usar os dez dedos!
Olha, eu tentei, mas não teve jeito. Não conseguia me convencer que para ser banqueiro precisava usar os 10 dedos para datilografar. Mas na época a doutrina era essa.
E até hoje uso o mesmo sistema no computador. Confesso que me dá uma certa inveja ver a gurizada manejar o mini teclado do smartphone em alta velocidade.
Mas eles usam só dois dedos, os polegares! Essa é minha vingança.
A tecnologia avançou. No entanto, a humanidade ainda precisa dos dedos para escrever. Já se deram conta disso?
O que eu queria agora era comprar uma máquina do tempo. Voltar nos anos até encontrar meu antigo chefinho do Banco da Província, espetar o indicador na cara dizendo que o futuro provou que mundo seria dos dedógrafos.