Certa feita, a jornalista Enir Grigol pegou um ônibus no Centro Histórico rumo ao Jornal do Comércio, na avenida João Pessoa, onde ele trabalhava na época 1282. Como chovia que Deus mandava, Enir vestiu uma capa de chuva com capuz que cobria metade da cara.
O coletivo estava quase vazio, apenas algumas pessoas, duas mais ao fundo. Quando ela se preparava para sentar, os dois se dirigiram à saída e lhe deram um encontrão. Ela foi para a redação.
Nem meia hora depois, do seu posto, o porteiro a avisou que fosse buscar a sua carteira que alguém tinha deixado na portaria. Surpresa, botou a mão no casaco e, de fato, ela não estava lá.
Com o coração na boca, examinou o pertence furtado. Estava tudo lá, inclusive dinheiro, identidade e talão de cheques. O porteiro explicou que dois sujeitos tinham deixado a carteira com recomendação que entregasse a ela.
Custou a cair a ficha. Mas, de repente, Enir somou 2+2. Diariamente, ela tomava café em um local na esquina e sempre cumprimentava dois senhores que lá estavam todo santo dia.
Como entrou apressada no ônibus, nem eles a reconheceram de imediato, por causa do capuz. Por sua vez, nem ela, porque nem olhara para a cara deles.
Quando eles abriram a carteira da vítima, viram, pela foto no documento de identidade, que se tratava da simpática jornalista que os cumprimentava todo dia no café da esquina.