Já contei aqui que ninguém passa pelo jornalismo incólume. Em algum momento ou momentos, a gente vacila e não faz a coisa certa. Mas não serei só eu no Dia do Juízo Final, não senhor.
O meu primo Rui Pedro Selbach, titular do Cartório de Notas de Três Coroas, vai ser chamado para se explicar. Ele me causou um dano terrível.
O horror, o horror que foi naquela fatídica manhã no início dos anos 1950 em São Vendelino, onde nasci. Para resumir, ele me ateou fogo, acreditam?
Conto o causo como o causo foi. Pedalávamos nossas bicicletas rumo ao Grupo Escolar, quando atravessamos uma pequena ponte. Ao lado, frondosos arbustos carregados de frutas vermelhas eram empurrados pelo vento. O Rui então desceu da bike.
– Primo, quem sabe vamos comer algumas pitangas?
Não precisou falar duas vezes, porque é a fruta da minha infância. Subi no selim para alcançar as frutas e, de imediato, enfiei um punhado na boca. Foi assim que meu primo me incendiou.
Era pimenta. Da braba.