Se me perguntassem qual o carro dos meus sonhos, eu diria carro de boi. Ou, como aqui chamávamos, carreta tracionada por dois bois, em que eu pegava carona na minha infância em São Vendelino.
Só quem nasceu em uma colônia alemã dá valor ao que hoje é motivo de indiferença. Meu pai não era agricultor, era comerciante, comprava grãos e os revendia em Porto Alegre. Então, eu ganhava carona nas carroças que traziam produtos da roça.
Claro que eram lerdas e barulhentas, por causa das rodas de madeira revestidas de ferro. Entretanto, eu adorava esse meio de transporte. Com a anuência dos donos, chegava a viajar por quilômetros para, depois, voltar a pé para casa.
O ideal era viajar nelas em dias chuvosos. Os colonos colocavam uma lona deixando aberta a parte traseira. Lá eu era feliz, aboletado entre sacos de feijão ou milho e curtindo o barulho de chuva na lona.
Melhor que isso só chuva em telhado de zinco. Cheguei a pensar em estender um pedaço de zinco na sacada do apartamento só para ouvir essa doce melodia. Desisti. O condomínio vetaria.
Então me restam as lembranças delas numa estrada de chão batido com chuva. Uma sinfonia perfeita.