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Misturas finas

Houve tempo em que a moda de drinques e misturas finas outras estavam no apogeu. Era o caso do imortal Gim Tônica, do WiFi (sim, a expressão já existia, mas sem o significado atual), suco de laranja com vodca. Ainda a perene Cuba Libre, que misturava rum com Coca-Cola; ou o Samba, cachaça com Coca-Cola ou Pepsi-Cola, bebida muito apreciada por quem não podia bancar o custo da vodca antes dela ter escala. Se bem que a qualidade de algumas marcas poderia ter envenenado o monge russo Rasputin, o imorrível.

Esta mistura fina, refrigerante cola com vodka, chamava-se Russo Preto, um nome meio que forçado. Lembro da propaganda da mistura, mas não lembro se foi iniciativa de uma marca (Orloff, acho), mas certamente não da Coca/Pepsi.

Havia outras misturebas nada dignificantes que não tiveram tempo de serem batizadas. Coitadas, suas almas não irão para o Paraíso e sim para o Limbo, como reza a Santa Madre.

Evidentemente existiam uma variedade enorme de drinques misturando bebidas alcoólicas, mas recordo do Gin Fiz (ou Fizz, na origem), drink que levava gim e na borda da taça se colocava açúcar. No Vale do Caí, os nativos bebiam “limãozinho”, cachaça com suco de limão.

Na versão top de linha entrava um tiquinho de vermute doce, alcunhado de Três Marias. De preferência uma cachaça chamada Flor da Macega.

Uma dessas heresias que misturavam refrigerantes com destilado era a medonha guaraná com uísque. Esta merece estar no panteão das obscenidades líquidas. Em resumo, estragava os dois.

Sorte da civilização que não tenha caído no gosto popular. Teria causado uma sequência de defeitos genéticos por gerações.

A atrocidade etílica maior foi uma terrível mistura criada no interior de São Paulo, vinho com cachaça. Some-se a isso a qualidade duvidosa, a vocação para serial killers de fígados.

Certa vez, nos anos 1990, vi um blueseiro americano beber rum com suco de laranja no bar do hotel Alfred Porto Alegre. Aqui era comum vodca com suco.

Aliás, o bar do hotel, o Tiffany’s, na rua Senhor dos Passos, que imitava o Harry’s Bar de Veneza, marrom com vermelho. Era um espetáculo, nos anos 1970 até meados dos 1990, quando já não tinha mais o mesmo brilho.

O Centro de Porto Alegre já não era mais o mesmo, porque a classe média fora expulsa da área por motivos que você vê hoje: a invasão de camelôs e ambulantes que não ambulam. Curioso que hoje os drinks não tenham o mesmo consumo de décadas passadas.

Ah, os bares de hotéis! Mas essa já é outra história.

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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