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Histórias da Mesa Um

A mais barulhenta Mesa Um que conheci foi, sem dúvida, a da Pelotense, na rua Riachuelo, casa já falecida. Encantava ou irritava. Os trabalhos começavam ao meio-dia e sempre tinha hora extra. Às vezes, até altas horas da noite.

Belo dia, um dos integrantes da seleta roda, um estancieiro forte de Bagé, convidou um engenheiro polaco aposentado para jantar em sua mansão. A patroa faria uma bela lasanha no fogão a lenha.

O engenheiro foi a Bagé. À noitinha chegou na casa do amigo. Ficaram os dois sentadinhos vendo a novela na sala, de bico seco porque a patroa era braba.

Lá pelas tantas, ela serviu a eles uma beberagem que tinha tanto álcool quanto água oxigenada. Logo para eles, que estavam acostumados a beber querosene de aviação misturado com líquido de freio. De repente, ela vem da cozinha com ar preocupado.

– Mas que azar… Vai faltar queijo! Um de vocês poderia ir até o mercadinho da esquina comprar mais queijo do bom?

Nem boneco de mola se levantaria tão depressa, Queijo é pesado, disseram os dois ao mesmo tempo, vamos nós dois.

Então saíram em busca do Queijo Perdido. Na verdade, em busca de uísque. Antes de ir ao tal mercadinho, foram a um bar chamado Agapito, e lá beberam, e beberam, e beberam durante um tempo, que eles calculavam ter sido meia hora, quando foram duas horas.

Com as palavras devidamente molhadas, o estancieiro perguntou o que era mesmo que eles tinham que comprar.

– Lenha, foi lenha – garantiu o engenheiro.

 Em uma dessas vendas do interior que tem de tudo acharam lenha. Compraram uma braçada e foram de volta para o lar doce lar. Aguardava-os a madame de braços cruzados, pé batendo no chão, indignada e olhando para o relógio cuco da parede.

– Cadê o queijo?

– Mas que queijo, mulher? Tu pediu lenha!

– Não mesmo! Eu pedi queijo!- falou ela, furibunda.

– Lenha! – falaram os dois ao mesmo tempo

Os vizinhos contaram que, por horas a fio, ouviu-se uma discussão da qual não se entendia muita coisa, apenas “lenha” e “queijo”. Compreensivelmente, a partir daquela lasanha que não houve, o engenheiro foi declarada persona non grata naquela casa.

O que é a falta de comunicação nesses tempos bicudos.

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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