O anúncio da morte do ator Cristopher Lee me enviou direto para o final os anos 1960. Ele e o Peter Cushing foram responsáveis pelos maiores cagaços que levei na vida, pelo menos nos meus verdes 16 anos. Meu pai tinha uma fiambreria – lembram delas? – na rua Álvaro Chaves, bairro Floresta. Certa noite chuvosa, fria e ventosa, foi ver o filme Drácula, o Príncipe das Trevas, na sessão das 22h, o primeiro de uma longa série de filmes de terror do diretor Roger Cormann.
O Orfeu ficava a umas seis ou sete quadras da minha casa. Embora proibido para menores de 18 anos, eu era especialista em enganar porteiro. Hoje, o filme não assustaria nem mesmo criancinhas, mas na época, só o título já dava calafrios. Éramos ingênuos, então.
Por causa do tempo e do horário tardio, havia poucos espectadores na enorme sala do Orfeu. Já sentei me encolhendo todo. Fechei os olhos várias vezes e em uma delas me perguntei porque diabo eu fui ver um filme de terror noite avançada.
Aí começou o filme de terror propriamente dito. À meia noite a Porto Alegre de então não tinha mais bondes ou ônibus, então fui a pé me encolhendo todo de frio e de medo e, para piorar, faltou luz. Meu jesus cristinho me tira dessa, tá escuro, chove, o vento faz úúúú nos telhados, não enxergo nada, estou molhado como cusco de rua, com frio e medo, se o senhor não puder por favor manda meu anjo da guarda, onde está o cara justo quando eu mais preciso dele? Se escapar dessa, eu juro que não espio mais a empregada tomando banho!
Cheguei são e salvo em casa. Não posso dizer o mesmo das minha calças