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Eu, ator

Já fui ator de comercial de TV, vocês sabem. Mas lembrei que também já foi ator de teatro. E precoce. A peça tinha o título “O crime não compensa”, frase mais comum que sorvete de creme.

Mas me dê um desconto, afinal eu tinha 13 para 14 anos. No tempo do Ginásio São João Batista de Montenegro, um colega, o Carlos Alberto de Oliveira, nos garantiu que dava para ganhar um bom dinheiro, convidando a vizinhança, pais e parentes. Lotaram a plateia, todos os 15 lugares.

Foto: CanvaPró

Ele mesmo escreveu a peça em três atos, os mais curtos da história da dramaturgia mundial. Fiquei contente que meu papel era de detetive, mas quem matava o criminoso era o Carlos Alberto. Não entendi, mas chefe é chefe.

Eu só tinha que me abaixar junto ao corpo estirado no chão – acho que era o meu amigo Laio – fingir que fechava as pálpebras e dizer uma frase que certamente, pensei eu na época, entraria para a história como o to-be-or-not-to-be de Hamlet, de William Shakespeare, o Bardo. Enchi os pulmões para proferir a frase que me incluiria na história do teatro.

– Pobre homem!

Brilhante, não? Quem sabe algum empresário da Broadway tivesse notícia da minha atuação e me convidasse. Mas ninguém aplaudiu e nem me cumprimentou após o espetáculo. Muito menos pediram autógrafo, para minha desilusão.

O que eu sei é que o Carlos Alberto ficou com a metade da renda dizendo que “o teatro”, a garagem da casa, era dele. Deduzidas as despesas, como a lata de graxa preta que comprei para pintar um bigode e uma bolacha em formato de estrela para pendurar no peito como se eu xerife fosse, sobrou dinheiro para comprar uma Coca-Cola, dois quindins e um cachorro-quente vendido pelo biscateiro Balaio Bocó.

Cabra interessante ele. Postava-se na frente do Clube Riograndense. Em noites de baile e na madrugada, aquele cachorro-quente só com salsicha e molho era manjar dos deuses, que carregava em um balaio de vime.

Sempre mal-humorado, era alvo de chistes da garotada inconsequente. Um deles pegou o lanche e fez uma pergunta cretina.

– Balaio, qual o tamanho da guampa da cobra?

– Do tamanho das guampas da tua mãe!

E mais não disse nem lhe foi perguntado.

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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