Search

Do Chanel ao Amor Gaúcho

Baunilha, canela, chocolate, café, e terra molhada. Estes são os cinco cheiros mais lembrados pelos terráqueos.

Eu também tenho minha lista dos cheiros de Porto Alegre nos anos em que a capital era boa demais para se viver. O cheirinho de churrasco da Churascaria Rancho Alegre, na Cristóvão Colombo, o cheiro da pizzada El Molino, o molho para cachorro quente e o sanduíche de pernil do Matheus, na Rua da Praia. E aqui faço uma pausa.

O pai da reunificação da Alemanha, no século XIX, Otto von Bismarck, dizia que não convinha ao povo saber como  se fazem salsichas e leis. Sabido esse Conde.

Pausa feita. Havia outros cheiros nem sempre agradáveis. De vez em quando a fábrica da Brahma, hoje Shopping Total, emanava um odor de repolho, que diziam ser usado para acelerar a produção. Mas chope recém tirado era um cheiro bom.

Recordo do café recém moído em padarias, o cheiro do pão quentinho, quase igual ao cheiro do pão de milho feito no forno a lenha da minha mãe.

Até hoje acho um sanduíche farroupilha com cacetinho recém saído do forno e uma xícara de café é uma das melhores invenções gastronômicas já criadas. Parabéns ao Lord Sandwich que, no século XIX, criou o sanduba para comer com uma mão, deixando a outra livre para jogar cartas com os amigos.

Há cheiros mais sutis, como o cheiro da água dos rios. Lembro demais dele no Arroio Forromeco da minha São Vendelino de outrora. Ou a maresia assim que se avistava as dunas de Tramandaí, o cheiro das cestas de vime vendidas em lojinhas e o bife na chapa sem azeite, só banha de porco.

Também da minha infância recordo do torresmo quentinho e do cheiro acre do espiral Boa Noite para afastar mosquitos feito com uma plantinha chamada piretro. Não-tóxica, pelo menos.

Os perfumes são um capítulo à parte. Lancaster e Água Velva para os homens, sabonete Lifebuoy, Channel número 5 para elas e uma loção chamada Atkinsons.

No Centro, vendedores de chá mate gelado em carrinhos servidos em copos afunilados de papel. Eu tenho até hoje prazer em cheirar mel. Ainda mais quando está nas colmeias, a engenharia perfeita das abelhas que nunca tiraram a Faculdade de Engenharia.

Fedor também é um cheiro que se lembre, certo? Tipo fedor de chaminé de fábrica. E havia muitas na Capital.  

Ainda quanto a perfumes femininos importados, maioria pela Casa Lyra, na Andradas, recordo de uma versão povão, envasada em pequenos vidros quebradiços.

O mais famoso era o Amor Gaúcho. Uma vez aspergido no sovaco e pescoço das mulheres solteiras, era garantia de não conseguir marido.

Na época, outro odor enjoativo era talco perfumado, que era polvilhado a mais não poder corpo afora. Em dias quentes e ao sol, era quase corpo humano à milanesa.

E o cheiro que NÃO existia era a maconha pairando no ar. Mas essa já é outra história.

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

Deixe sua opinião

Publicidade

Publicidade

espaço livre