Mar, maresia, quais são os cheiro, sons e imagens do veraneio gaúcho? Para mim as imagens mais fortes são da estrada antiga, a RS-020, que serpenteava entre os morros e planícies antes de chegar a Santo Antônio da Patrulha e os sonhos enormes.
A viagem era parte do veraneio, mas só na ida. Na volta, era brabo encarar a volta às aulas. Em Cachoeirinha havia um posto da Polícia Rodoviária Estadual, que se batia o “ponto” em um relógio, cartão que deveria ser entregue em outro posto em Osório – a velocidade média não podia ser superior a 60 Km/h.
Assim que o carro aproava Tramandaí, a reta final, aguardava-se com ansiedade o cheiro da maresia numa praia sem prédios altos e com dunas e areias brancas. Nunca mais vi as areias brancas.
Além da poluição, deve ter mais uma causa para o desaparecimento. A imagem das dunas recortando o horizonte era outra visão que permanecia na rotina. Proust, não é só você e suas madeleines, minhas lembranças olfativas vão da maresia ao odor da fritura dos bolinhos de chuva passando pelo cheiro adocicado dos filtros solares, que além de não serem filtros, apenas ajudavam a cozinhar a pele ao sol.
A visão das casuarinas, árvore que não dá grande sombra, mas é parte da paisagem do Litoral, era outra imagem que ficava na retina. O áudio era o assobio do vento nordestão se esgueirando às pressas entre seus mirrados galhos, como se gemido de prazer fosse.
Havia – ainda há – uma cumplicidade amorosa e sensual entre o vento e a casuarina. Imagino que sejam amantes. Devem rir da nossa ignorância, gemendo ao fazer amor bem na nossa frente.