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As histórias do Velho Jequitibá

Antes de ser jornalista, fui bancário e cheguei a um posto bem razoável como assistente da gerência do Banco da Província, que foi um dos mais fortes bancos gaúchos no tempo em que se amarrava cachorro com linguiça.

Era chamado de o “Velho Jequitibá”, alusão à centenária árvore – o banco foi fundado em 1858 e era o mais antigo do país. Foi comprado pelo Montepio da Família Militar, no final dos anos 1960. Mas aí eu já estava fora. Virou Sulbrasileiro, que foi para as cucuias na década de 80.

A sede ainda existe e hoje é Santander, na esquina das ruas Uruguai e Sete de Setembro, Porto Alegre. Foi construído com mármore de Carrara e os vidros eram de cristal belga, entre outras modernidades.

Ar condicionado central, escada rolante pioneira. Quando comecei, foi na ralé do banco, um setor apelidado de Arrancada. Então, era assim chamado porque nós arrancávamos os grampos das duplicatas, que eram encaminhadas para os cálculos dos juros, e depois para os caixas. Altíssima tecnologia, como se vê.

Fui promovido rapidamente, acho que eu sabia arrancar grampos melhor que os colegas. Daí meu curto tempo como remador de galé. 

Perto de hoje, vivíamos um paraíso em termos de segurança. Os mais novos não têm a mais pálida ideia de como se vivia tranquilo naquele tempo.

Mesmo os bancos dormiam com as janelas abertas, por assim dizer. No andar da Arrancada ficavam os Procuradores, que levavam e traziam documentos mais importantes de uma agência para outra. Assim como dinheiro vivo, caso a agência ficasse sem o vil metal por qualquer motivo.

Certo dia, estava eu arrancando grampos à velocidade de cinco por minuto quando o chefe chamou. A filial Osório precisava de reforço de caixa e só havia um Procurador disponível. o Homero – quando a soma era alta, eles tinham que ir em dupla.

Quem sabe eu fazia esse sacrifício e ia com ele até Taquara? Ele mal tinha dito “Ta…” quando eu gritei siiiim, qualquer coisa para sair da monotonia do grampo e pegar a estrada.

Para encurtar o causo, saímos do banco cada um carregando uma grande pasta de couro com algo que hoje seria R$ 1 milhão, por aí. Tendo na cinta um revólver calibre 38 just in case com porte ao portador.

Fomos para a rodoviária a tempo de pegar um ônibus, esperamos meia hora com aquele dinheiro dando sopa. Vejam só, nada de carro forte.

Entregamos a grana ao gerente e voltamos no final do dia. Ganhei um dinheirinho extra pela extenuante tarefa, e ainda me pagaram o jantar na Spaghettilândia, vejam só. Senti-me como um lorde, devorando aquele bife à parmegiana.

Só lamentei ter que devolver o trezoitão. Bem que eu queria dar uns tirinhos ao alvo.

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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