“…o Leão contou os lençóis que eram lavados diariamente”
Interrompida por um dia, eis o final do episódio sobre as mulheres famosas da noite porto-alegrense. Ou os cabarés comandados por mulheres. Cabarés extinguiram-se. Morreram quando surgiram as garotas de programa, sites, books e por aí afora. Cabaré era um lugar de respeito. Dançava-se, bebia-se, e levava-se as mulheres para o quarto depois do acerto de preço. Instante ou pouso. Uma casa precursora em matéria de liberdade sexual foi a Dorinha, na esquina da Pedro Chaves Barcellos com a Júlio de Castilhos. Na maioria das casas, as gentís senhoritas faziam só papi-mama. Deus me livre se alguém pedisse algo diferente, como sexo oral. – Tá pensando que eu sou o quê? Essa era a resposta indignada do mulherio. Mas na Dorinha, não. Hoje, o pau come solto nessa matéria. Como se diria em linguagem de advogado, antes era recurso extraordinário, agora é petição inicial. De um lado e de outro, a bem da verdade. A Dorinha tinha uns bancos com espaldar, discretos. Outra casa era a Antoninha, na João Pessoa ao lado do Jornal do Comércio. Também teve seus tempos de glória. A Míriam ficava ao lado da Zero Hora. Nos anos 80 era o último dos cabarés. Míriam se recusou a vender o prédio para a expansão da RBS. E teve a glória das glórias, a Mônica, ou Mônika, no Cristal. Casa classe A, com seu famoso quarto dos espelhos. Mônika morreu há coisa de cinco ou seis anos, no Guarujá, São Paulo. Ela protagonizou um caso famoso com a Receita Federal, no final dos anos 60, quando o leão realmente começou a comer as pessoas. A Receita contestou a declaração da Mônika, dizendo ela faturava mais que o alegado com um argumento sólido: o fiscal contou os lençóis que eram lavados diariamente na lavanderia da casa. Lascou uma multa federal no cabaré. Não quebrou, mas foi um baita estrago no caixa. A contadora da casa está aí vivinha da silva para confirmar a história.