Há anos, numa galáxia muito distante, quando os celulares ainda engatinhavam e recém tinham saído do formato tijolão para um tamanho mais civilizado, falei para o Marco Aurélio que o problema deles era a fragilidade. Deixou cair, babaus. Negativo, disse o Marco Aurélio, o meu resiste até a uma inundação de uísque.
– Faz uma semana que deixei cair o meu num copo de uísque. O coitadinho ficou bons dois minutos embaixo da água, quer dizer, do uísque. Abri, tirei a bateria, usei o secador da minha mulher e ele tá firme, falante como nunca.
O Marco não falou, mas imagino que o coitado do Nokinha tenha sucumbido ao alcoolismo. Imagino que ele nem precisava estar no vibracall, duas horas sem bebida ele entrava no delirium tremens e tremia feito doido.
A história me marcou, e até a escrevi o causo no site. Alguns anos depois, já com internet nos celulares, falávamos no Jornal Gente da Rádio Bandeirantes sobre os defeitos exasperantes deste equipamento, quando lembrei do afogamento com uísque. E contei o causo.
Poucas horas depois o Marco Aurélio liga, tristonho.
– Cara, ri para não chorar.
– Qual é a bronca?
– É que meu médico estava ouvindo o programa de vocês e me ligou em seguida. Estava putíssimo da cara, meu. O que eu tive que ouvir dele…
– Não entendi. Até os espetos do Barranco sabem que gostas de um bom scotch.
– Sabiam, sabiam – disse ele rindo. – É que eu jurei pro médico que nunca mais beberia destilados. E não bebi mesmo, cortei, só na ceva e em marcha lenta. Ele não quis nem ouvir minha explicação, que foi há anos o acontecido.
Pôxa, eu fiz tudo isso?