Estava o boi pastando nos campos doados pelo Senhor quando uma mosca pousou num tufo de grama mais alta. Com a pachorra comum aos bovinos quando pastam e os olhos olhando para lugar nenhum, o boi encheu a boca com o suculento pasto sem dar chance para a mosca decolar.

Quando ela se deu por conta, já estava fazendo acrobacias clássicas como a loopings e tonneaux. Ganhou altura e mudou a direção do voo.

Só que a manobra lhe deu dor de cabeça, porque ela bateu direto no céu da boca. Tonta, apesar do seu DNA de piloto nata, fez uma aterrissagem forçada na língua.
Antes que ela pudesse arremeter, as forças G geradas pela boca do boi prenderam-na nas bochechas. Dali, foi direto rumo a um escuro túnel gosmento. Já refeita, o eco das suas asas mostrou que ela estava numa caverna escura, com um enorme pé direito.
Mesmo tendo quase seis mil olhos simples, ela não conseguia ver detalhes, só o atacado da coisa. A infeliz era, literalmente, uma bela de uma mosca tonta.

Esta condição fez com ela tentasse loucamente achar a saída daquela arapuca medonha. Então, voava e dava com a cabeça nas paredes, voava de novo e dava de novo com a cabeça nas paredes. Nestas manobras desatinadas, perdeu 20% dos seus belos olhos cor de furta-cor.
Quando o tanque de energia esgotou, ela pousou em um espaço que parecia uma boa cama. Entretanto, na realidade, era o interior do intestino. Pegou no sono em seguida.
Quando acordou, o boi tinha ido embora.
Avô procura
Relato do leitor Ruy Walberto Simon: a minha nona (avó) olhava pela janela em uma grande casa de comércio em Joinville (SC), com moradia no piso superior, enquanto o nono cochilava na cadeira de balanço forrada com pelegos. Em uma noite, ela se assustou com sabe-se-lá-o-quê e falou um tanto alto:

– Maricole vergine – jovens virgens, na tradução.
O cochilante avô acordou meia boca e respondeu meio assustado:
– Dove…dove?
“O homem planeja e Deus ri.”
Pensamento do Dias