A maior censura que existe é a autocensura, mais afiada que qualquer tesoura. E também somos o país do linchamento precoce.
O que vou dizer agora se enquadra na herança do juiz norte-americano Lynch. Como somos um povo dividido por dois, qualquer pensamento fora de um ou outro escancara o patíbulo.
Por exemplo, do alto dos meus 57 anos de jornalismo, posso afirmar que, no tempo dos regimes militares pós-Ato Institucional número 5 de dezembro de 1968, a censura não era tão escandalosa como hoje. Na época, todos sabíamos que não podia falar em terrorismo e guerrilha, nem fazer apologia às drogas e, claro arrostar o sistema dominante. Os censores davam especial atenção à TV, mais que aos jornais impressos.

O lado escuro da Lua
Hoje, não há regras definidas como naquela época. Claro, podemos falar mal do governo e podemos dizer que não gostamos do Supremo, desde que não se use adjetivos.
A espada de Dâmocles paira permanentemente na nossa cabeça. Vai depender do juiz e especialmente se o juiz se sentir incomodado.

Mas há nuances – e sempre há uma. Se você trabalhar em algum dos grandes jornais, não corre muito risco, porque a trombeta virá dos editores. Se você trabalhar em um pequeno jornal estadual, o risco é maior.
Ocorre que tem tantos textos ululantes correndo por aí que é difícil isolar um. Mas aquela espada…
Tentativa e fato
Posso dizer, com a maior tranquilidade, que vivemos tempos perversos, porque até tribunais superiores pulam por cima da Constituição, sem o menor constrangimento. E não é de hoje.

Não tenho nenhum apreço por Jair Bolsonaro. Mas o circo que armaram se sustenta em algo que não existe: tentativa não é crime.
Guardadas as proporções, é como se eu dissesse para meu vizinho “vou te matar”. Não dá nem BO.
Delenda Bolsonaro
No tempos dos Césares da Roma antiga, a frase “Delenda Carthago”, ou mais frequentemente “Carthago delenda est” (que significa “Cartago deve ser destruída”), era dita por Catão, o Velho, um político romano. Hoje, há um ódio visceral contra o ex-presidente.
Não se trata mais de se fazer Justiça. É pessoal a bronca. Repetindo: não sou fã de Bolsonaro e acho que ele se ferrou pela própria boca, comprando briga com todos os poderes com ou sem aspas. Incluindo a mídia.

No jornalismo, sonega-se informação ao leitor. A defesa do também réu general Augusto Heleno sugeriu que Moraes, relator do processo no STF, teria assumido a postura de “juiz inquisidor” na condução do interrogatório de réus e testemunhas, porque o ministro fez mais perguntas que a Procuradoria-Geral da República. E teria, inclusive, levantado questões que estavam fora dos autos.
Pronto. Estou linchado.