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Um instante, maestro!

Esse era o nome de um programa na TV TupiUm instante, maestro!, dos Diários e Emissoras Associados, no final dos anos 1960, então líder de audiência. Todo mundo via nos domingos à noite o apresentador Flávio Cavalcanti pedir para tocar um disco. E, se ele achasse ruim, quebrava-o em público.

As músicas, cantores, conjuntos musicais e orquestras de Porto Alegre, naqueles verdes anos, eram muitos. Entretanto, poucos dava para quebrar.

Foi o tempo dos bailes da Reitoria da UFRGS, na Jovem Guarda, e em que os Beatles e Elvis Presley começaram suas trajetórias vitoriosas. Também o tempo de reuniões-dançantes e bailes em clubes sociais, de cantores dos mais variados gêneros musicais, incluindo o brega puro e o brega sublime.

Muitos estão vivos e requisitados até hoje, como Eduardo Araújo com “Eu sou o bom”. Roberto Carlos cantava como “Quero que tudo vá para o inferno”. No brega-chique, Nelson Gonçalves e seu compositor Adelino Moreira brilhavam com músicas como “Boemia/Aqui me tens de regresso/E suplicante te peço/A minha nova inscrição”.  

Os Demônios da Garoa eram considerados coisa de bagaceiros pela elite. Embora fossem heróis para o povão. Como em “Iracema” e a frase trágica do final: “Guardo somente suas meias e seu sapato/Iracema/Eu perdi o seu retrato”.

Na música erudita, a moda era ouvir Vivaldi (il padre rosso) e Bach. Mas essa era para ouvidos mais exigentes. Visto que o povo bailante tinha outras preferências. Foi o tempo dos conjuntos melódicos como Norberto Baldauf, o Arpege de Bento Gonçalves, muito requisitados para os bailes de clubes sociais do interior. Se você não fosse sócio de um, estava ferrado.

Já as orquestras internacionais brilhavam nas rádios e toca-discos, boa parte inspirada nas big bands dos anos 1940 e 1950, como Glenn Miller (Pennsylvania six-five o-o), Ray Conniff, Percy Faith e Billy Vaughn com seus trompetes em primeira e segunda voz, que enternece as garotas, que se punham a sonhar enquanto bailavam. Não necessariamente com o bailarin que a tirou para dançar.

Quando um conjunto ou orquestra levava a palavra “típica” era sinal que tinham vocação para o tango. Por esta época, ficaram famosas o Casino de Sevilla, um luxo cujo cachê era muito alto. Também um que poucos devem se lembrar, Marimbas de Cucatzclan, especialista em mambos, que hoje chamamos de salsa.

No brega-sublime brilhavam músicas como “Boneca Cobiçada”, que “Das noites de sereno/Teu corpo não tem dono/Teus lábios tem veneno”. Altemar Dutra era o rei dos boleros, um gênero importado dos castelhanos, dançante de rosto colado e corpos muito, muito colados (Ninguém é de ninguém/Na vida tudo passa” e “Porque não paras relógio/Não me faças padecer/Ela irá para sempre/Breve o sol vai nascer”).

Eu curtia os discos do argentino que se bandeou para Hollywood, Lalo Schiffrin, um gênio à frente do seu tempo com o disco “Marquês de Sade”. Um detalhe notável daquele tempo é que o backing vocal e cantoras pop americanas não soltavam gritinhos e se rebolavam como se tivessem coceira no fiofó como hoje.

Mas essa já é outra história.  

Fernando Albrecht

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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