“…todo mundo espetava seu guarda-sol no mesmo espaço, de preferência”
Vamos concordar que a velocidade com que as coisas estão mudando é assombrosa. O que valia ontem não vale mais, e das 18h em diante o que valia hoje já não vale mais nada. Então é óbvio que todos nós temos saudades dos carnavais e dos veraneios antigos. Outro dia vi um rapazote dizer que queria voltar no tempo, que o veraneio de 2005 em Capão da Canoa é que era bom. Imagina, 2005 foi ontem. Agora, ele tem razão. Não consigo achar graça numa cidade do Litoral que sofre de congestionamentos em julho.
Então o que deixam para mim e a Tramandaí dos anos 1960 e 1970? Ficávamos num espaço à esquerda do Bar Panorama, aquele prédio redondo que foi demolido há alguns anos. Conhecia-se a vizinhança porque todo mundo espetava seu guarda-sol sempre no mesmo espaço, de preferência. Minha mulher gostava de caipirinha, que se buscava no bar Gaivota. Já a cerveja que eu e minha sogra gostávamos chegava de pé-entrega.
Explico. Um rapaz que apelidamos de Simonal, ou Simona, porque parecido com o cantor, abastecia aquele trecho todo com latas de Brahma para adultos e picolés para a criançada. Até aí morreu Neves, dirão vocês, mas esperem eu molhar o bico: o Simona tinha caderninho. Anotava a despesa e depois do almoço ia nos apartamentos e casas para receber o devido. Nunca levou calote, me contou certa vez.
Como dizia o Adoniran Barbosa para os Demônios da Garoa, botem sentido no prato e vejam se era bom ou não era. Isso tudo foi para o espaço. Durou anos e anos e virou espuma de onda quebrada na areia.