Quando comecei no jornalismo, em 1968, a redação da Zero Hora ficava na rua Sete de Setembro, ao lado onde hoje é a Garagem Rex, que por sua vez foi um dos melhores cinemas de Porto Alegre, com o mesmo nome. Esta rua canaliza o vento frio no inverno. Então, era danado de ruim trabalhar na redação de madrugada – da meia-noite até as 7h da manhã.
Na frente do prédio, um papeleiro apelidado de Sim Senhor – começava e terminava as frases com esta expressão – vestia apenas uma camisa leve, mesmo com temperatura próximo a zero grau. Perguntei a ele como suportava a friagem. Ele abriu a camisa:
– Sim, senhor, seu repórti, eu boto papel de jornal por baixo de cima a baixo, sim senhor. Papel esquenta, sim, senhor.
Peguei a mensagem, divino mestre. Subi para a redação, tirei a roupa, me enrolei com o finzinho de uma bobina de papel e depois vesti a roupa de novo. Em 15 minutos estava suando. Nunca mais senti frio nas frias madrugadas, quando fui repórter da madrugada.