O guarda-chuva que abre apenas com o toque do dedo em um botão é muito difícil de fechar. Mas nada se iguala aos guarda-chuvas mais sofisticados, italianos em especial, que abrem e fecham automaticamente.
Tive um e paguei um baita de um mico na calçada da avenida Borges de Medeiros em dia muito chuvoso. Todo pimpão que eu estava, nossa.
Ao sair da chuva e acionar o botão que recolhe aquela lona de circo, o bicho espalhou água dois metros para frente, para trás e para os lados. Recebi brilhos assassinos nos olhos dos molhados que, segundos antes, estavam secos.
O manto sagrado
De maneiras que a tecnologia ajuda, mas às vezes, em vez de resolver, piora. Um dia alguém, quem sabe eu, escreverei um opúsculo sobre a história dos meus guarda-chuvas ao longo da minha vida.
Quando eu era criança, eles eram caros e embora eu pedisse um, mais por gabolice que por necessidade, eis que eu usava um poncho uniforme rio-grandense fabricado pela Rio Guahyiba. Era confeccionado com camadas e camadas de lã grossa.

Brecava qualquer vento minuano (sul) ou pampeiro (oeste), além de ser praticamente impermeável. Precisaria de dois dias e duas noites levando água que cai de cima para ficar úmido.
Chamava-se capa Tropeiro. Imagine caminhar um quilômetro até a escola debaixo do toró. Meu Jesuscristinho, eu agradecia aos fabricantes pela qualidade da Tropeiro.
Vira-casaca
Acho que meu primeiro-guarda-chuva foi um de segunda mão, quando tinha 10 ou 12 anos. Vocês sabem que a pior coisa é estar caminhando na chuva com um e o vento virá.
Não só pelo fim do protetor pluviométrico, mas pela humilhação. Este artefato tem dupla função, além da óbvio, o outro é perdê-lo em lugares que nunca mais o acharemos.

Também deve ser o objeto de uso pessoal mais roubado da história. Há anos, achei que devia contar os que perdi em cinco anos, para começar. Desisti quando somei cinco, que eu lembrasse.
O tira e seu uniforme
Nos filmes policiais dos anos 1960, detetive que se prezasse usava gabardine ou gabardina. Feio de tecido claro ou azul escuro, tinha a bossa de estreitar na cintura graças a um cinto largo. Quem viu a série do detetive Columbo sabe do que estou falando.
Dava um charme extra na paquera. Cigarro nos beiços, gabardine e galochas nos sapatos, mas que tal?
Não é fácil para quem, cara-pálida?
Ao falar no Conselhão, o presidente Lula queixou-se do desconto do Imposto de Renda no seu salário. “Não vai ser fácil viver para quem ganha 46 mil por mês”, queixou-se, fazendo coro aos brasileiros que gostariam da correção da tabela do IR.
Frase semelhante foi dita por um jogador da seleção brasileira nos anos 1990, “Não sei como alguém que ganha só 20 mil por mês consegue viver”. Caíram de pau nele.
Deixando a demagogia de lado e sem querer debochar dos que ganham o salário mínimo, se somarmos despesas fixas como escola, condomínio, banda larga mais outras modernidades da vida, cerca de 10 mil por mês viram 7 mil por causa do Leão mais as despesas acima. Então, sim, as aparências enganam.
O erro foi Lula ter dito o que disse sendo ele quem é. Deixou a bola picando. Ainda mais ele, que não deve gastar nada, porque tem palácio, jatinho, cartão sem limite, enfim, cama, comida e roupa lavada.
E nem paga plano de saúde. Viva com nosso salário, Lula, e verá o que é bom para a tosse.–
É na necessidade que se conhece o amigo da onça.
Pensamento do Dias