Bar Pelotense, rua Riachuelo, 1975, 11h de sábado. Dois senhores de idade entram, sentam-se a uma das mesas de mármore com ferro trabalhado. Vem o garçom Elpídio, comanda na mão, Bic atrás da orelha.
– Dois chopes, rápido. Muita sede.
Assim que os copos chegam à mesa, eles fazem um brinde batendo os copos, e bebem como se viessem do deserto. Mal estavam na metade ouve-se um barulho estranho vindo do alto pé direito da casa. Um pesado ventilador de teto de pás metálicas se desprende e mergulha direto.
Espatifa-se e espatifa a mesa. Por milagre, bem na hora em que os dois estavam curvados para trás, bebendo. Houve um silêncio atônito no recinto, até que um deles levantou o dedo.
– Mais dois.
O garçom trouxe pressurosamente os chopes. O mais velho levantou e falou como se estivesse em campanha.
– Olhem só nossa sorte dupla. Saímos de Barra do Ribeiro de manhã, e, ao entrar na BR-116, um caminhão pegou nosso Opala de cheio, perda total. Não sobrou nem a tampa do porta-luvas. E nenhum de nós teve um só arranhão! E agora vem essa do ventilador assassino.
Sentou e pediu mais dois chopes. Desta vez, todos os fregueses brindavam juntos. Até o Elpídio, com seu reluzente dente de ouro, acompanhou o brinde.