A reunião-almoço da Federasul de ontem teve como tema o futuro dos Centros Históricos das cidades gaúchas, e o de Porto Alegre – todos sabemos que – camelôs e ambulantes que não ambulam fizeram usucapião da área. Tudo começou na segunda metade dos anos 1970, quando os prefeitos do PT permitiram a entrada deles antes das 18 horas.
Aí o boi se foi com laço e tudo. O prefeito José Fogaça encarou o olho da cobra e deslocou todo o comércio informal para o Centro de Compras, o Camelódromo. Funcionou até o fim do seu mandato. Depois, eles voltaram por indolência do sucessor.
Nunca jamais
Querer de volta a área central com o esplendor até o final da década de 1960 é missão impossível. É física e culturalmente impossível. Isso porque, com a invasão, as lojas de grife se deslocaram para os shoppings.

Por sua vez, a classe média que nelas se abastecia as acompanhou. Ademais, na época havia seis cinemas de ponta, pelo menos meia dúzia de bar-chopes e bares de grandes hotéis, sem falar na segurança e no charme da Rua da Praia. Tinha gente bem vestida desfilando sua beleza, ternos e vestidos.
O minimundo da Andradas
Tenho as melhores lembranças do centro daquela época. Na Rua da Praia, formavam-se grupos de acordo com a procedência e tendência.

Havia um grupo de egressos do Interior, uma roda onde se contavam as piadas mais novas, outros por faixa de renda, enquanto as garotas espichavam discretamente os olhos para os mais atraentes. Nada de cantada explícita, tinha que ser maneiro para ganhar na lábia. As famílias que iam aos cinemas de noite, especialmente Imperial, Guarani, Cacique e Rex (este na Sete de Setembro) olhavam as vitrines para escolher roupas que comprariam durante a semana.
Minhas escolhas
Nem sempre o salário dava. Mas em matéria de sapatos, cobiçavam-se as marcas Samello e Terra. Camisas e calças, além de pulôveres, eram compradas em lojas como a Taft, Casa Louro para as mulheres e Casa Lyra, que vendia perfumes franceses ao mesmo tempo em que eram lançados em Paris.

Para almoçar barato, Spaghettilândia e Padaria Matheus; quando saía o salário, restaurantes Napoleon, Churrascaria Quero-Quero, Churrasquita, restaurante do Hotel Plazinha, Churrascaria Capri, onde se saboreava um belo filé à Osvaldo Aranha, batizado pelo próprio que não dispensava farofa nas refeições.
O Café Rhian
Onde hoje é a Panvel do Calçadão ficava o Rhian, que chegou a vender cinco mil cafezinhos por dia. Para lanchar, torradas e mini pizzas com um tempero que nunca mais encontrei igual. Ponto de encontro de políticos e profissionais liberais.
Como disse, isso não volta nunca mais. Nem esse povo, nem estas operações.
Como faz
E como se faz um Centro Histórico a partir do zero? Amanhã eu conto como Curitiba fez o dele em poucas semanas.
Amigo que não presta, faca que não corta.
Pensamento do Dias