Eu sempre gostei mais dos anônimos. E dos loosers. Tipo ajudante de cocheiro de diligência de filme de faroeste, sempre o primeiro a morrer por tiro ou flechada. Mal terminavam os créditos, lá vinha a diligência a milhão e, em seguida, o ataque fulminante de índios ou bandidos.
Fico imaginando esse ator explicando aos filhos o sentido da sua brevíssima vida cinematográfica. “Graças à minha morte o filme ganhou vida”. É uma tese.
Nessas idas e vindas do Chalé da Praça XV, no Centro de Porto Alegre, vem à lembrança um amigo afável e figura conhecida da noite e dos bares com música, o cantor seresteiro Ademar Silva. Ele tinha um homônimo, e os dois se detestavam.
O Silva do B cantava mais música gauchesca, enquanto seu xará era mesmo da seresta, MPB da antiga. Gostava de cantar as músicas do poeta e compositor maranhense Catulo da Paixão Cearense, cuja obra mais conhecida é Luar do Sertão.
Uma noite, ele estava posto a cantar no Adelaide’s Bar, na rua Marechal Floriano, talvez o bar que conseguia reunir o maior número de músicos famosos, dando canja no final da década de 1960 e início dos anos 70 – Lupi, Johnson, Clio Marino, Plauto da Flauta entre tantos outros – quando um forasteiro nos abordou e perguntou o nome do cantor. E nós, ao mesmo tempo.
– Ademar Catulo da Paixão Cearense Silva.
O cara ficou impressionado, talvez achando que aquele negro fosse descendente da família do compositor cearense. Que nada, ele era do IAPI mesmo.