Vinha o camelo troteando quando, em sentido contrário, aproximou-se um dromedário. Quando emparelharam, este virou a cabeça.
– Por que eu só tenho uma corcova?
Com aquela mastigação típica de quem parece estar mascando chicletes, o camelo examinou o seu primo.
– Eu era como você. Fiz um implante de corcova com um cirurgião plástico e agora tenho duas – enquanto falava, traçou com os cascos o e-mail do médico.
Um mês depois, o dromedário fez a mesma cirurgia. Quando tiraram as bandagens, ele se olhou no espelho e não gostou do que viu: tinha três corcovas. Foi de pata em riste para cima do cirurgião.
– Eu queria ficar igual ao camelo e você me transformou em uma aberração. Não sou nem um nem outro. Por que fez uma maldade dessas comigo?
– Maldade coisa nenhuma. Olhe o lado positivo. O camelo só leva um passageiro e você pode levar dois. Digamos que você seja uma versão estendida ou ER, como se diz para carros e aviões.
O dromedário gostou da explicação. Foi direto para o cartório e para uma gráfica. No primeiro, alterou seu nome para Dromelo; na segunda, encomendou cartões de visita com seu novo perfil.
Moral da história: Como já dizia Nietzsche, a fé não move montanhas. Na verdade, coloca montanhas onde não há nenhuma.